quarta-feira, 30 de março de 2011

Pessoas são Mundos.


Esses últimos dias não têm sido muito fáceis, e sim, talvez eu esteja mesmo reclamando de barriga cheia. Quero dizer, aconteceram tantas coisas boas... No período do carnaval, estive em uma confraternização de jovens espíritas e, ao lado deles, adquiri muitos aprendizados, ferramentas que me serão muito úteis ao longo da minha jornada. Além disso, fiz muitos amigos, pessoas que, mesmo usando todas as palavras do mundo, não seria fiel em descrever os valores de cada um deles. Mas acho que minha principal conquista foi a renovação da minha fé em diversos pontos, e a coragem da qual me abasteci para continuar caminhando.

Enfim, não há do que reclamar. Eu estou indo para a universidade federal em Agosto e, apesar de estar com o peso no coração por saber que isso significa, de certa forma, me separar de todas essas coisas boas que conquistei, eu sei que isso também significa a continuidade da minha jornada e, portanto, o melhoramento do meu ser. Mas... por que continuo tão infeliz?

A resposta não está tão clara como eu gostaria, mas eu sei que o conflito é interno.

Como eu disse, nessa confraternização eu fiz muitos amigos. É incrível como, em tão pouco tempo, nós nos tornamos tão próximos, e eu aprendi a ter um carinho especial e um respeito extremo por cada um deles. E bom, como é de se esperar, nós continuamos amigos mesmo depois do evento. Já tivemos alguns encontros desde então, e o mais recente foi no show do Vozes Eternas e da minha banda espírita favorita, o GAN - Grupo Arte Nascente nos dias 26 e 27 de Março. Foi incrível! Justamente quando eles estavam tocando minha música favorita, Flutuar, um dos vocalistas do GAN, o Maurício, chegou bem pertinho da platéia e estendeu o microfone... e eu cantei um trechinho da música. Fiquei elétrico por alguns minutos, mas consegui voltar ao show, ainda sem acreditar que uma coisa tão fantástica como aquela tinha acontecido comigo.

Depois do show, eu e meus amigos combinamos de ir comer alguma coisa. Não foi fácil encontrar um lugar, ainda mais porque era domingo à noite... Mas finalmente decidimos pela Compão, uma lanchonete em Icaraí. Quase todo mundo pediu sucos vitaminados, sanduíches ou coisas assim. Eu estava lá com meus amigos e, ao mesmo tempo, estava distante...

Sabe, nesse show eu tive a oportunidade de ouvir uma música incrível, do grupo Vozes Eternas. Eu não me recordo do nome da música agora, mas acho que era algo como "Um Mundo Como Eu Nunca Havia Visto Em Você". Eu me lembro de que, quando ouvi essa música, fiquei extremamente pensativo à respeito da letra. E de repente, como um estalo, as coisas fizeram sentido pra mim ou, pelo menos, alguma parte delas.

As pessoas são mundos inteiros, com toda a sua vastidão, toda a sua grandeza, intensidade e beleza. Existe uma diversidade imensa de espécies neles, tanto de seres vivos microscópicos como de sentimentos gigantescos. Só que, como qualquer mundo, eles não possuem somente um único local habitado. Seria como imaginar que a Terra, sendo do tamanho que é, só possui uma única ilha em toda a sua superfície. Ou seja, é loucura.

Eu também entendi que nós, como seres humanos, nos achamos no direito de conquistar esses mundos, às vezes até esquecendo que nós mesmos somos mundos. Então, à primeira vista de terra, ao primeiro contato visual, já erguemos a bandeira de nossos exércitos e partimos para a conquista. Ao ancorar na praia desconhecida, já fincamos nossa bandeira ali mesmo, e nos achamos donos daquele território. E acho que é por isso que a grande maioria dos relacionamentos não dá certo.

Vejam a Terra, por exemplo. Imaginem um ser de outro planeta, que jamais esteve por aqui. Imaginem que ele possui uma visão extraordinária e, mesmo flutuando na órbita de Terra, ele pode ver em detalhes tudo o que acontece em nossos solos. Agora imaginem que ele esta girando ao redor da Terra, na mesma velocidade que o nosso planeta gira em torno de si mesmo. Então, isso significa que esse Ser estaria em contato com apenas uma face da Terra, em tempo integral, não é mesmo?

Agora, imaginem que essa face seja justamente a parte do nosso planeta que corresponde à África. Esse Ser   provavelmente iria se assustar com a quantidade de desastres, miséria, fome, doenças, mortes, e a esperança quase extinta de uma nação inteira. Então, quando voltasse ao próprio planeta, esse Ser diria que a Terra é um lugar triste, sombrio, cheio de chagas sociais que nunca irão se resolver, e que a humanidade provavelmente terminará por destruir à si mesma e ao planeta aonde vivem.

Imaginem, porém, que um outro ser, daquele mesmo planeta que nos observava, resolveu conferir com seus próprios olhos de extraordinária capacidade se a Terra é realmente um lugar tão ruim quanto o amigo lhe descrevera. Ele posicionou-se na órbita da Terra, exatamente como o outro fizera. Entretanto, seu campo de visão atingiu justamente a Suíça. Ele então vê que, ali, todas as pessoas parecem viver felizes, sem nenhum problema aparente. Elas se alimentam bem; seu padrão de vida é bem confortável; até mesmo médicos e dentistas parecem trabalhar apenas com aspectos de orientação e prevenção, não sendo necessário tratar qualquer problema de saúde gravíssimo, como um câncer, ou mesmo a AIDS. Então aquele Ser retorna ao seu planeta com uma imagem completamente diferente da Terra, completamente disposto e contestar o depoimento do colega, porque afinal, a Terra não poderia ser um lugar mais pacífico.

E se eu dissesse que cada um de nós é EXATAMENTE como esse ser extraterrestre?

Calma. Eu sei que essa minha teoria pode parecer um tanto confusa, mas eu já vou explicar. É que, ao longo do tempo, nós nos acostumamos a olhar para as pessoas ao nosso redor e ver somente um pequeno país, um pequeno ponto, e não o planeta inteiro, em toda a sua unidade. Sendo assim, a gente tende a julgar aquele pequeno pedaço como a representação do que acontece em toda a superfície daquele mundo e, portanto, no interior daquela pessoa.

Essa maneira errada de avaliar aqueles com quem convivemos, conseqüentemente, faz com que nos encantemos completamente ou nos faz repudiar por inteiro aquele ser vivo, e ambas as atitudes são um total desrespeito àquela pessoa. Mesmo que você venha a se apaixonar por alguém, não importa se conheceu a pessoa agora ou se já convivem há algum tempo, é preciso descer à superfície, visitar cada um dos mil países que ali existem, conhecer as belezas naturais e também os conflitos existentes, os monumentos erguidos em admiração e os fragmentos de crenças que já foram derrubados, aquilo que lhe promove a paz interior e aquilo que lhe faz entrar em guerra com os outros mundos.

Então eu retorno ao pequeno bote de expedição. A bandeira é fincada na areia da praia e, de certa forma, vamos ganhando espaço em uma terra que, ao primeiro momento, pode ou não ser fértil. Se desembarcamos na Itália, tudo parece lindo, romântico, e você tem a certeza de que não poderia ter escolhido um lugar melhor para chamar de SEU. Mas se, por ventura, desembarcamos no Iraque, fazemos questão de deixar que as águas do oceano derrubem nossa bandeira e voltamos correndo para o navio, fazendo questão de dizer a todos que encontrarmos pelo caminho que aquele é um mundo o qual não vale a pena conhecer.

Alguns ainda arriscam em se aventurar. Procurando entender aqueles conflitos, eles entram no meio do tiroteio com a bandeira nas mãos, tentando encontrar o ponto fraco daquela guerra interna, com a esperança de que, uma vez conquistado, aquele território dê ouvidos à paz. Mas dentro de nós, às vezes neva, às vezes faz um sol escaldante, às vezes o vento sopra tão forte que arranca todas as nossas folhas e, às vezes, sem que ninguém precise tocar em nada, a primavera chega reconstruindo tudo, em todos os cantinhos da gente. Mesmo aquela imensa geleira da qual nenhum desbravador teve coragem de se aproximar e descobrir o que há por detrás daquilo, diante dos raios de sol, até mesmo ela começa a derreter.

Só que nenhum de nós entende que a bandeira que carregamos com o símbolo do nosso próprio mundo é senão um presente, uma coisa extremamente importante, à ser entregue ao dono do outro mundo, como um sinal de respeito, uma aliança, e é somente o dono quem deve decidir o que fazer com ela.

Alguns de nós até entendem que a bandeira é um presente, mas infelizmente, eles ofertam suas dádivas em nome das belezas físicas. Eles não entendem que todos os mundos passam por Eras e, por essa razão, estão constantemente mudando, se transformando, não necessariamente de uma maneira positiva. O mais belo dos mundos, por exemplo, aquele onde os frutos são os mais viçosos e o solo é o mais fértil para os bons pensamentos e sentimentos, diante de uma tempestade ou de uma catástrofe, pode perder tudo aquilo que possui de encantador. Entretanto, isso não significa que esse mesmo mundo não possa se reconstruir.

Da mesma forma são as pessoas. Oferecemos à elas todo o nosso apoio, nosso carinho, respeito e compreensão. Mas quantos de nós não lhes dão as costas diante do primeiro assombro? Quantos de nós não desaparece diante daquilo que, à primeira vista, não conseguimos compreender? E quantos de nós se arriscam em cair na deriva, no meio de uma tempestade?

Entregar a bandeira é se dispor à estar sempre presente, sejam quais forem as eras que aquele mundo venha a enfrentar. É procurar ser uma luz que faça germinar todos os bons valores outra vez, quando a tempestade vier destruir tudo aquilo que achamos ser belo. É entender que todos os mundos, isto é, todas as pessoas possuem qualidades e defeitos, limites, guerras internas e momentos de paz absoluta. Presentear com a bandeira significa aceitar o outro exatamente como o conhecemos. Ainda que, depois de anos de convivência, uma guerra inesperada nos surpreenda, nos assuste, entregar nossa bandeira ao outro é o mesmo que assumir o compromisso de ser eternamente verdadeiro e incansável no que diz respeito ao progresso daquele mundo - e não nos esqueçamos de que, nesse sentido, só é possível caminhar para frente.

Por mais apaixonante que o outro venha a ser, por mais cativante que seja o seu jeito de ser, de pensar, de agir, devemos nos lembrar sempre de que a beleza de cada mundo, isto é, de cada pessoa, está senão dentro delas, em seu núcleo. De outra forma, apaixonar-se pelo exterior é o mesmo que orbitar o próximo, e visualizar somente aquilo que queremos, e não a totalidade daquele ser. Porque a bandeira mais importante, aquela a que chamamos de coração, está só deve ser entregue quando conhecemos todos os continentes, e decidimos que, ainda que a tempestade chegue, residir ali é o que completará nossa presente existência.

Um dia, quando todas as pessoas, na unidade de seus mundos, resolverem desembarcar nas praias alheias, sem julgar aquele mundo inteiro por suas guerras ou por suas belezas naturais, então compreenderemos que todos os mundos podem estabelecer acordos de paz, todos os mundos podem conviver felizes perto uns dos outros, porque na essência de seus núcleos, a mesma energia pulsa vibrante, tornando-o iguais e, portanto, um ÚNICO mundo, cuja beleza só se faz eterna porque todos aqueles pequenos pontos de luz se empenham em brilhar juntos.

4 comentários:

  1. Oiee!

    Nem li todo seu post, só vim aqui deixar um recadinho e dizer que eu fiz um blog p escrever minhas inutilidades de sempre! (rosafosco.blogspot) iouhaoiuahoi...
    E é claro, antes de tudo mas ja dizendo depois.. estou aqui p desejar que você se recupere logo e dizer que você faz falta na banda ;p
    E dizer tambem que eu fico impressionada com sua criatividade, seus blogs são irados e os nomes que você inventa tambem! oieuheiouh...
    Mas é isso ae, um dia eu chego lá tambem! xD

    Beijão e uma careta daquelas que eu faço bem felizes (ou não) IEUOHEOIUEH...

    Fui ;*

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  2. Thiago adorei o texto muito lindo mesmo. Estou seguindo o meu caminho e tentando andar com as quatro pernas um passo após o outro. É dificil mas nao desistirei. se desejar trocar idéia comigo, me chamo Beto e meu facebook é beto gomes meu e-mail é betog37@gmail.com um forte abraço

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  3. Amei ler este texto seu e recordar tantos momentos juntos, estou com saudades, dê notícias... bjs!

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  4. Thiago, eu estou simplesmente encantado com seu texto!
    É de uma profundidade ímpar! Rara!

    É difícil encontrar pessoas que identificam potências reflexivas em coisas tão pequenas ou, até subliminares em que, apenas alguém tão sensível teria a capacidade de captar.
    Parabéns Thiago.
    LINDO texto,
    MUITO bem escrito (É MUITO gostoso de ler),
    e BASTANTE preenchedor e importante para novos conceitos e novas visões. Coceitos e visões estas, que se tornam responsáveis por um crescimento e felicidade intimos e silenciosos, num nível que só o inconsciente seria capaz de entender e absorver.
    Estou simplesmente encantado, admirado.

    Boa noite.
    Fica com Deus, querido.

    :)

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