quarta-feira, 30 de março de 2011

Pessoas são Mundos.


Esses últimos dias não têm sido muito fáceis, e sim, talvez eu esteja mesmo reclamando de barriga cheia. Quero dizer, aconteceram tantas coisas boas... No período do carnaval, estive em uma confraternização de jovens espíritas e, ao lado deles, adquiri muitos aprendizados, ferramentas que me serão muito úteis ao longo da minha jornada. Além disso, fiz muitos amigos, pessoas que, mesmo usando todas as palavras do mundo, não seria fiel em descrever os valores de cada um deles. Mas acho que minha principal conquista foi a renovação da minha fé em diversos pontos, e a coragem da qual me abasteci para continuar caminhando.

Enfim, não há do que reclamar. Eu estou indo para a universidade federal em Agosto e, apesar de estar com o peso no coração por saber que isso significa, de certa forma, me separar de todas essas coisas boas que conquistei, eu sei que isso também significa a continuidade da minha jornada e, portanto, o melhoramento do meu ser. Mas... por que continuo tão infeliz?

A resposta não está tão clara como eu gostaria, mas eu sei que o conflito é interno.

Como eu disse, nessa confraternização eu fiz muitos amigos. É incrível como, em tão pouco tempo, nós nos tornamos tão próximos, e eu aprendi a ter um carinho especial e um respeito extremo por cada um deles. E bom, como é de se esperar, nós continuamos amigos mesmo depois do evento. Já tivemos alguns encontros desde então, e o mais recente foi no show do Vozes Eternas e da minha banda espírita favorita, o GAN - Grupo Arte Nascente nos dias 26 e 27 de Março. Foi incrível! Justamente quando eles estavam tocando minha música favorita, Flutuar, um dos vocalistas do GAN, o Maurício, chegou bem pertinho da platéia e estendeu o microfone... e eu cantei um trechinho da música. Fiquei elétrico por alguns minutos, mas consegui voltar ao show, ainda sem acreditar que uma coisa tão fantástica como aquela tinha acontecido comigo.

Depois do show, eu e meus amigos combinamos de ir comer alguma coisa. Não foi fácil encontrar um lugar, ainda mais porque era domingo à noite... Mas finalmente decidimos pela Compão, uma lanchonete em Icaraí. Quase todo mundo pediu sucos vitaminados, sanduíches ou coisas assim. Eu estava lá com meus amigos e, ao mesmo tempo, estava distante...

Sabe, nesse show eu tive a oportunidade de ouvir uma música incrível, do grupo Vozes Eternas. Eu não me recordo do nome da música agora, mas acho que era algo como "Um Mundo Como Eu Nunca Havia Visto Em Você". Eu me lembro de que, quando ouvi essa música, fiquei extremamente pensativo à respeito da letra. E de repente, como um estalo, as coisas fizeram sentido pra mim ou, pelo menos, alguma parte delas.

As pessoas são mundos inteiros, com toda a sua vastidão, toda a sua grandeza, intensidade e beleza. Existe uma diversidade imensa de espécies neles, tanto de seres vivos microscópicos como de sentimentos gigantescos. Só que, como qualquer mundo, eles não possuem somente um único local habitado. Seria como imaginar que a Terra, sendo do tamanho que é, só possui uma única ilha em toda a sua superfície. Ou seja, é loucura.

Eu também entendi que nós, como seres humanos, nos achamos no direito de conquistar esses mundos, às vezes até esquecendo que nós mesmos somos mundos. Então, à primeira vista de terra, ao primeiro contato visual, já erguemos a bandeira de nossos exércitos e partimos para a conquista. Ao ancorar na praia desconhecida, já fincamos nossa bandeira ali mesmo, e nos achamos donos daquele território. E acho que é por isso que a grande maioria dos relacionamentos não dá certo.

Vejam a Terra, por exemplo. Imaginem um ser de outro planeta, que jamais esteve por aqui. Imaginem que ele possui uma visão extraordinária e, mesmo flutuando na órbita de Terra, ele pode ver em detalhes tudo o que acontece em nossos solos. Agora imaginem que ele esta girando ao redor da Terra, na mesma velocidade que o nosso planeta gira em torno de si mesmo. Então, isso significa que esse Ser estaria em contato com apenas uma face da Terra, em tempo integral, não é mesmo?

Agora, imaginem que essa face seja justamente a parte do nosso planeta que corresponde à África. Esse Ser   provavelmente iria se assustar com a quantidade de desastres, miséria, fome, doenças, mortes, e a esperança quase extinta de uma nação inteira. Então, quando voltasse ao próprio planeta, esse Ser diria que a Terra é um lugar triste, sombrio, cheio de chagas sociais que nunca irão se resolver, e que a humanidade provavelmente terminará por destruir à si mesma e ao planeta aonde vivem.

Imaginem, porém, que um outro ser, daquele mesmo planeta que nos observava, resolveu conferir com seus próprios olhos de extraordinária capacidade se a Terra é realmente um lugar tão ruim quanto o amigo lhe descrevera. Ele posicionou-se na órbita da Terra, exatamente como o outro fizera. Entretanto, seu campo de visão atingiu justamente a Suíça. Ele então vê que, ali, todas as pessoas parecem viver felizes, sem nenhum problema aparente. Elas se alimentam bem; seu padrão de vida é bem confortável; até mesmo médicos e dentistas parecem trabalhar apenas com aspectos de orientação e prevenção, não sendo necessário tratar qualquer problema de saúde gravíssimo, como um câncer, ou mesmo a AIDS. Então aquele Ser retorna ao seu planeta com uma imagem completamente diferente da Terra, completamente disposto e contestar o depoimento do colega, porque afinal, a Terra não poderia ser um lugar mais pacífico.

E se eu dissesse que cada um de nós é EXATAMENTE como esse ser extraterrestre?

Calma. Eu sei que essa minha teoria pode parecer um tanto confusa, mas eu já vou explicar. É que, ao longo do tempo, nós nos acostumamos a olhar para as pessoas ao nosso redor e ver somente um pequeno país, um pequeno ponto, e não o planeta inteiro, em toda a sua unidade. Sendo assim, a gente tende a julgar aquele pequeno pedaço como a representação do que acontece em toda a superfície daquele mundo e, portanto, no interior daquela pessoa.

Essa maneira errada de avaliar aqueles com quem convivemos, conseqüentemente, faz com que nos encantemos completamente ou nos faz repudiar por inteiro aquele ser vivo, e ambas as atitudes são um total desrespeito àquela pessoa. Mesmo que você venha a se apaixonar por alguém, não importa se conheceu a pessoa agora ou se já convivem há algum tempo, é preciso descer à superfície, visitar cada um dos mil países que ali existem, conhecer as belezas naturais e também os conflitos existentes, os monumentos erguidos em admiração e os fragmentos de crenças que já foram derrubados, aquilo que lhe promove a paz interior e aquilo que lhe faz entrar em guerra com os outros mundos.

Então eu retorno ao pequeno bote de expedição. A bandeira é fincada na areia da praia e, de certa forma, vamos ganhando espaço em uma terra que, ao primeiro momento, pode ou não ser fértil. Se desembarcamos na Itália, tudo parece lindo, romântico, e você tem a certeza de que não poderia ter escolhido um lugar melhor para chamar de SEU. Mas se, por ventura, desembarcamos no Iraque, fazemos questão de deixar que as águas do oceano derrubem nossa bandeira e voltamos correndo para o navio, fazendo questão de dizer a todos que encontrarmos pelo caminho que aquele é um mundo o qual não vale a pena conhecer.

Alguns ainda arriscam em se aventurar. Procurando entender aqueles conflitos, eles entram no meio do tiroteio com a bandeira nas mãos, tentando encontrar o ponto fraco daquela guerra interna, com a esperança de que, uma vez conquistado, aquele território dê ouvidos à paz. Mas dentro de nós, às vezes neva, às vezes faz um sol escaldante, às vezes o vento sopra tão forte que arranca todas as nossas folhas e, às vezes, sem que ninguém precise tocar em nada, a primavera chega reconstruindo tudo, em todos os cantinhos da gente. Mesmo aquela imensa geleira da qual nenhum desbravador teve coragem de se aproximar e descobrir o que há por detrás daquilo, diante dos raios de sol, até mesmo ela começa a derreter.

Só que nenhum de nós entende que a bandeira que carregamos com o símbolo do nosso próprio mundo é senão um presente, uma coisa extremamente importante, à ser entregue ao dono do outro mundo, como um sinal de respeito, uma aliança, e é somente o dono quem deve decidir o que fazer com ela.

Alguns de nós até entendem que a bandeira é um presente, mas infelizmente, eles ofertam suas dádivas em nome das belezas físicas. Eles não entendem que todos os mundos passam por Eras e, por essa razão, estão constantemente mudando, se transformando, não necessariamente de uma maneira positiva. O mais belo dos mundos, por exemplo, aquele onde os frutos são os mais viçosos e o solo é o mais fértil para os bons pensamentos e sentimentos, diante de uma tempestade ou de uma catástrofe, pode perder tudo aquilo que possui de encantador. Entretanto, isso não significa que esse mesmo mundo não possa se reconstruir.

Da mesma forma são as pessoas. Oferecemos à elas todo o nosso apoio, nosso carinho, respeito e compreensão. Mas quantos de nós não lhes dão as costas diante do primeiro assombro? Quantos de nós não desaparece diante daquilo que, à primeira vista, não conseguimos compreender? E quantos de nós se arriscam em cair na deriva, no meio de uma tempestade?

Entregar a bandeira é se dispor à estar sempre presente, sejam quais forem as eras que aquele mundo venha a enfrentar. É procurar ser uma luz que faça germinar todos os bons valores outra vez, quando a tempestade vier destruir tudo aquilo que achamos ser belo. É entender que todos os mundos, isto é, todas as pessoas possuem qualidades e defeitos, limites, guerras internas e momentos de paz absoluta. Presentear com a bandeira significa aceitar o outro exatamente como o conhecemos. Ainda que, depois de anos de convivência, uma guerra inesperada nos surpreenda, nos assuste, entregar nossa bandeira ao outro é o mesmo que assumir o compromisso de ser eternamente verdadeiro e incansável no que diz respeito ao progresso daquele mundo - e não nos esqueçamos de que, nesse sentido, só é possível caminhar para frente.

Por mais apaixonante que o outro venha a ser, por mais cativante que seja o seu jeito de ser, de pensar, de agir, devemos nos lembrar sempre de que a beleza de cada mundo, isto é, de cada pessoa, está senão dentro delas, em seu núcleo. De outra forma, apaixonar-se pelo exterior é o mesmo que orbitar o próximo, e visualizar somente aquilo que queremos, e não a totalidade daquele ser. Porque a bandeira mais importante, aquela a que chamamos de coração, está só deve ser entregue quando conhecemos todos os continentes, e decidimos que, ainda que a tempestade chegue, residir ali é o que completará nossa presente existência.

Um dia, quando todas as pessoas, na unidade de seus mundos, resolverem desembarcar nas praias alheias, sem julgar aquele mundo inteiro por suas guerras ou por suas belezas naturais, então compreenderemos que todos os mundos podem estabelecer acordos de paz, todos os mundos podem conviver felizes perto uns dos outros, porque na essência de seus núcleos, a mesma energia pulsa vibrante, tornando-o iguais e, portanto, um ÚNICO mundo, cuja beleza só se faz eterna porque todos aqueles pequenos pontos de luz se empenham em brilhar juntos.

segunda-feira, 21 de março de 2011

O bicho roxo.


Eu recebi o convite.
Eu aceitei ir.
Eu até me abasteci de precauções, não só para mim, mas também para os que estariam ao meu redor - o que demonstra claramente minha generosidade.
Eu cheguei lá.
Eu emudeci por alguns minutos.
Eu os vi chegarem.
Eu estive com eles e, aos poucos, fui percebendo as engrenagens.
Eu percebi que minhas palavras, meus gostos e ações eram os únicos que não se encaixavam.
Eu cheguei a pensar em ficar calado a noite inteira, pois sentia que minha presença e o nada eram a mesma coisa.
Eu percebi que cada um deles tinha sua função. 
Eu percebi que cada um deles já tinha, dela, um espaço no coração.
Eu percebi que minhas atitudes eram equivocadas, tais quais minhas palavras.
Eu percebi que eu nada tinha a oferecer que eles já não soubessem.
Eu percebi que ela os amava mais que a mim.
Eu percebi que nenhum deles me amava.
Eu percebi que EU não me amava.
Eu percebi minha loucura, e continuei a cometê-la.
Eu percebi que, se eu tinha um função, era somente a de fazer aquilo que nenhum deles queria fazer.
Eu percebi que aquela seria a última vez que nos veríamos.
E então, vem o ciúme rasgar meu coração em mil pedaços.
Vem a solidão me envolver eternamente em seu abraço.
Eu vou partir para o nunca mais.

segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

Itália ou "Diga como se estivesse comendo" ou "36 histórias sobre a busca do prazer".

De todos os livros que já li, poucos prenderam tanto a minha atenção quanto COMER, REZAR, AMAR, da autora Elizabeth Gilbert. A jornada de Liz em busca de si mesma, a maneira como reflete sobre cada lição e redescobre virtudes que ela achava ter perdido para sempre são um verdadeiro convite à auto-reflexão, ao auto-redescobrimento, e você percebe que sempre pode aprender um pouquinho mais sobre você mesmo.


Ah, mas o que mais me cativa é a maneira como a autora descreve os lugares e as situações que vivencia. Na sua busca por si mesma, ela decidi visitar três países: a Itália, a Índia e a Indonésia. O que esses três países têm em comum? A Letra I que, em Inglês, significa "EU".

Então eu parei de tentar escolher - Itália? Índia? Ou Indonésia? - e acabei admitindo que queria viajar para os três lugares. Quatro meses em cada lugar. Um ano ao todo. É claro que isso era um sonho um pouco mais ambicioso do que "Quero comprar um estojo novo para mim". Mas era o que eu queria. E eu sabia que queria escrever sobre isso. Não era nem que eu quisesse explorar em detalhes os países em si; isso já havia sido feito. O que eu queria era explorar em detalhes um aspecto de mim mesma em relação ao contexto de cada país, em um lugar que tradicionalmente fazia muito bem aquela coisa específica. Eu queria explorar a arte do prazer na Italia, a arte da devoção na Índia e, na Indonésia, a arte de equilibrar as duas coisas. Foi somente mais tarde, depois de admitir esse sonho, que percebi a feliz coincidência de que todos esses países começam com a letra I, que significa "eu" em inglês. Isso me pareceu um sinal bastante auspicioso para uma viagem de autodescoberta.
E foi com essa proposta pessoal que eu aceitei o convite de viajar junto com a Liz, pelas páginas de seus relatos e, se possível, também descobrir um pouco mais sobre mim mesmo. Nossa primeira parada é a Itália, o berço do movimentto renascentista e um país cuja linguagem foi minuciosamente escolhida, tal como a própria Liz vem nos contar.
 Bom, tenho que admitir que na parte estética da cidade, Liz deixou um pouco há desejar nas descrições. Ela chegou até a descrever algumas fontes e alguns lugares por sua extrema beleza, mas não com os olhos de uma artista. Entretanto, este não é o objetivo de nossa viagem, mas sim um bônus. O intuito de Liz foi redescobrir o verdadeiro sentido de prazer através da culinária italiana que é, de longe, uma das mais saborosas do mundo. É extremamente divertido essa curiosidade e a disposição com a qual ela busca pelo prato especial de cada cidade que visita na Itália. Um dos pontos mais legais dessa primeira parte é a magestosa pizza que Liz e sua amiga Sofie experimentam em sua visita à Nápoles.

Como eu poderia saber que é possível existir nesse mundo uma massa ao mesmo tempo fina e consistente? Maravilha das maravilhas! Ah, paraíso das pizzas finas, consistentes, fortes, boas de morder, deliciosas, elásticas e salgadas! Para completar, há um molho de tomate adocicado fervendo, borbulhante e cremoso que faz derreter a mozzarella de búfala, e o ramo de solitário de manjericão no meio do círculo de alguma forma dá a pizza inteira um brilho de ervas, mais uma festa empresta um toque de glamour a todos à sua volta. Você tenta dar uma mordida na sua fatia e a borda macia se dobra, e o queijo derretido escorre como um terreno que desliza, sujando você e tudo que está à sua volta, mas são os ossos do ofício.

Claro, nossa estada em Roma e nas demais cidades da Itália não consiste apenas no fato de comer uma fatia de pizza deliciosa de pizza por dia, quero dizer, não inteiramente pelo menos. Entre um gelato e outro, Liz faz muitos amigos, pessoas que muito a ajudam em sua viagem interior - embora ela se esforce ao máximo para manter isso em segredo.

Elizabeth também descobre que não se pode viajar para outro continente e deixar seus problemas guardados em caixas, em um quarto de entulhos no apartamento de sua irmã. Ela tem de encarar duas velhas inimigas: a Solidão e a Depressão. Eu mesmo, em minha assiduidade por relacionamentos amorosos, me pergunto se seria capaz de visitar uma cidade tão romântica quanto Roma estando sozinho e vendo todos aqueles casais apaixonados e o amor zunindo de forma inebriante ao meu redor, mas não para mim. 

Entretanto, a experiência de Liz me lembrou uma frase da qual muito gosto:

Navegar é preciso. Amar não.
Com tantas belas coisas para se desfrutar ao nosso redor, seja em Roma ou no Rio de Janeiro, por que o Amor ou a ausência dele tem que ser a coisa que define nosso estado de espírito? Acredito que fazer do Amor uma necessidade é a atitude mais errada que um ser humano pode cometer. E mais errado ainda e fazer desse sentimento uma corrento que nos prende à outrem, quando Amor deveria ser um laço a unir duas vidas.
Outra coisa que me chamou a atenção é justamente o momento que Liz descobre que sua maior aliada na luta contra a depressão é justamente ela mesma. Num momento comum, ela acaba se depara com o próprio reflexo em um espelho e seu cérebro lhe diz que trata-se de uma pessoa conhecida, uma pessoa amiga. Liz então corre ao encontro de si mesma, na esperança de saudar, de estreitar mais os laços com seu íntimo. Quando li essa parte, reconheci o imenso sentido que existe nessa atitude e, mais uma vez, reconheci nosso erro em ter tanta devoção nas outras pessoas para que aparem nossas quedas e aliem nossas arestas, quando a primeira pessoa em toda a Terra que deveria estar atenta a isso somos NÓS MESMOS.

Buscar o verdadeiro sentido do prazer. Muita gente acredita que essa palavrinha, prazer, está ligada a outra ainda mais curtinha: sexo. Bom, talvez estejam certos, as duas palavras têm uma certa intertextualidade, mas sexo não é o único significado de prazer. Acredito que o verdadeiro significado, o sentido mais próximo de prazer é simplesmente aquilo que nos satisfaz, que nos deixa felizes por determinado espaço de tempo. Ler um bom livro, assistir um bom filme, comer algo saboroso ou aprender um novo idioma (como no caso de Liz) são alguns exemplos de pequenas coisas que nos mostram que o prazer também se extrai de coisas simples e, por que não, individuais. Mais uma prova de que muitas coisas em nossas vidas são mais dependentes de nós mesmos do que dos outros.
"Então fique sozinha, Liz. Aprenda a lidar com a solidão. Acostume-se a ela, pela primeira vez em sua vida. Bem-vinda à experiência humana. Mas nunca mais use o corpo ou as emoções de outra pessoa como um modo de satisfazer seus próprios anseios não realizados."
Nessa viagem à Itália, Liz visita um famoso ponto turístico, o Augusteum. Trata-se do mausoléu construído por Otaviano Augusto para abrigar seus restos mortais e os de sua família, por toda a eternidade. Só que as cinzas do Imperador romano foram roubadas pouco antes do séulo XII - não se sabe como e nem quem é o autor do crime. Mas o fato é que, depois disso, o Augusteum teve muitas outras serventias que não um mausoléu: foi o refúgio  da poderosa família Colonna, na tentativa de fugir dos inúmeros ataques de príncipes guerreiros; foi transformado em um vinhedo e, logo depois, em um jardim renascentista, depois em praça de tourada, depósito de fogos de artifício e até em uma sala de concertos.

 
Por fim, em 1930, o líder fascista Mussolini confiscou a propriedade para transformá-la novamente em um mausoléu, para que ali fossem guardados os restos mortais do próprio ditador - muito embora o Augusteum não tenha sido usado para este fim. E então ele foi esquecido, mesmo com toda uma cidade crescendo e fervilhando seu redor. O Augusteum ainda permanece em silêncio, guardando os segredos de todos os séculos que viveu.
Liz reflete sobre o assunto e chega à uma interessante conclusão: no final das contas, a vida não é tão caótica assim. É apenas este mundo que é caótico e nos traz mudanças que ninguém poderia ter previsto. Esse monumento nos alerta para que não nos apeguemos a nenhuma idéia inútil sobre quem somos, o que representamos, a quem pertencemos ou qual função fomos criados para executar. Porque você pode começar um ano de sua vida como um glorioso mausoléu, e terminar este mesmo ano sendo apenas um depósito de fogos de artifício. Para estas ou para outras, é preciso sempre estar preparado para as constantes e intermináveis ondas de tranformações.

Ainda nessa busca pelo prazer, Liz e eu temos algo em comum: gostamos de copiar aquilo que traz prazer aos outros. Quero dizer, ela fica extremamente empolgada com uma moça australiana que está viajando de mochilão pela Europa, a caminho Eslovênia. Liz automáticamente se pergunta: Por que eu nunca viajo para lugar nenhum? Eu quero ir à Eslovênia. Eu, por minha vez, percebi que ler este livro está me dando uma imensa vontade de aprender mais sobre a cultura Italiana, e não duvido nada que eu vá me encantar pela Índia e pela Indonésia também, quando eu e ela estivermos visitando estes países, mas não consigo controlar. Estou sendo tomado por uma louca vontade de aprender, de descobrir, de conhecer outras culturas. De repente, eu estou tendo que lidar com uma irrefreável vontade de conhecer todos os países do mundo, de aprender a cultura e a língua de cada um deles e depois levar isso ao mundo. Se tornou um hobbie para mim, tanto é que na semana passada entrei em uma livraria e comprei três guias de viagem: um sobre Nova York, outro sobre Londres e outro ainda sobre Tóquio. Ao folhear estes livros, senti-me próximo do prazer de realizar um pedacinhoso dessa nova ambição, mesmo não podendo ainda visitar estes e outros países.
 
Liz tem um amigo muito inteligente, o Giulio. É ele que, durante uma conversa em um dia de chuva, revela à Liz um fato que me deixou intrigado.
- Você não sabe que o segredo para entender uma cidade e seus habitantes é aprender qual é a palavra da rua?
E ele explica que toda cidade tem uma única palavra que define, que identifica a maioria das pessoas que mora ali. Se fosse possível ler o pensamento de cada uma das pessoas que passam por nós nas ruas de qualquer cidade, descobririamos que a maioria delas está tendo o mesmo pensamento. Qualquer que seja o pensamento da maioria - essa é a palavra da cidade. E, se a sua palavra pessoal não combinar com a palavra da cidade, então ali não é realmente o seu lugar.

Giulio diz à Liz que a palavra de Roma é SEXO. Liz, como uma americana, diz à Giulio que as palavras de Nova York e de Los Angeles são, respectivamente CONQUISTAR e CONSEGUIR e a própria Liz então chega á conclusão de que sua viagem se fez necessaria porque sua palavra interior não se encaixava mais com as palavras da cidade onde vivia. Aliás, ela também sente que seu coração não reside em Roma, já que sua conexão com a cidade não está ligada ao Sexo, e sim ao descobrimento literal do prazer. Essa é a maior necessidade que a motiva em continuar sua viagem, dessa vez rumo à Índia.

Liz reflete por um tempo, tentando identificar qual seria sua palavra. CASAMENTO? FAMÍLIA? PRAZER? DEVOÇÃO? ESCONDER? SEXO?
Não. Definitivamente, nenhuma dessas palavras. Na verdade, ela acaba chegando a conclusão de que não apenas desconhece sua própria palavra, como também tem a consciência de que esse ano de viagem do qual o livro trata também propõem esse tema: descobrir sua palavra interior, pessoal.

Eu pensei um pouco também, sobre qual seria minha palavra. À princípio, também pensei como Liz, em FAMÍLIA, mas percebi que meu amor e meus sacrifícios não se estendem à todos os membros da minha árvore genealógica. Pensei em GENEROSIDADE, mas então fui invadido por dezenas de lembranças dos meus comportamentos egoístas. Pensei em DISPOSIÇÃO, mas lembrei de todas as vezes em que a preguiça me sucumbiu. Pensei em INTENSIDADE, mas lembrei de todas as vezes em que não pintei, não escrevi, não cantei, não falei ou interpretei como sou capaz de fazer. Pensei em APRENDER, ou CONHECER, mas descobri que ainda julgo muito rápido aquilo que não conheço e que ainda sou um pouco fechado ao que o mundo ao meu redor me diz.

Foi aí que entendi. Minha palavra veio à tona, como uma bolha de ar que vem subindo do fundo ocenao, prestes a emergir e se juntar ao ar da atmosfera: TRANSFORMAÇÃO. Porque estou sempre indo à vários lugares, porque estou sempre conhecendo novas pessoas, porque estou sempre vivenciando novas situações e tento aprender com cada uma dessas coisas. Estou sempre ouvindo as pessoas que amo dizendo que estou diferente, que estou mais adulto, mais maduro, muito embora eu me veja como uma criança impaciente. Mas a paixão que tenho pelo mundo e pelo que nele vive, minha vontade de pegar todo o conhecimento, toda a cultura, todos os dons e ofícios e abrigá-los dentro de mim, tudo isso não poderia me traduzir em outra palavra senão está: TRANSFORMAÇÃO.

"Cheguei à Itália abatida e magra. Ainda não sabia o que eu merecia. Talvez eu ainda não saiba totalmente o que mereço. Porém, o que sei é que, ultimamente, eu me recuperei - graças à alegria de prazeres inofensivos - e tornei-me alguém muito mais intacto. A maneira mais difícil, mais fundamentalmente humana de dizer isso é que eu engordei. Existo mais agora do que há quatro meses atrás. Deixarei a Itália perceptivelmente maior do que quando cheguei aqui. E irei embora com a esperança de que a expansão de uma pessoa - a ampliação de uma vida - seja realmente um ato de valor neste mundo. Mesmo que essa vida, só dessa vezinha, por acaso seja apenas minha e de mais ninguém."
Eu cheguei ao Rio de Janeiro completamente desnorteado e confuso quanto a minha própria personalidade. Havia algo estranho dentro mim, como uma mistura entre o que eu já fui um dia e uma tempestade de coisas que eu nunca quis ser. Embora eu tenha conquistado muitas das coisas com as quais sempre sonhei (como fazer parte de uma banda, cantar em um palco para mais de quatrocentas pessoas e viver um romance dos sonhos), eu ainda não estava plenamente feliz, e estava começando a fazer coisas que não faria em meu íntimo comum.
Depois de um ano vivendo no Estado Carioca, [re]descobri muito mais sobre mim mesmo. Entendi que não existo simplesmente, mas que estou vivo, e isso me dá uma importância única, singular. Eu percebi que posso e devo desempenhar um papel neste mundo, que posso fazer uma pequena parte para melhorar a mim mesmo e, assim, um pedacinho do mundo ao meu redor. É como olhar para um enorme quebra-cabeça e perceber que existe uma peça em minhas mãos, e que cabe a mim e somente a mim colocá-la junto às outras. Claro, a paisagem só estará completa e perfeita quando toda a humanidade resolver colocar suas peças junto às nossas também. Eu não sei quanto tempo isso vai demorar, mas talvez, quando eles perceberem o delicado esplendor de um mundo melhor bem ao alcance deles, eles estedam suas mãos e, completando sua parte, se juntem à nossa dança.



 

sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

Pressionada



Mãe sai do banheiro após o banho.
EU: Ei, pode esquecer. EU vou tomar banho agora.
IRMÃ: Ah, não! Thi, por favor, deixa eu ir primeiro.
EU: Não.
IRMÃ: Por favor.
EU: NÃO.
IRMÃ: É que eu...
EU: Humm...?
IRMÃ: Eu preciso fazer o... número 2.
EU: Eita!
IRMÃ: É SÉRIO.
EU: Então vai no outro banheiro, ora.
IRMÃ: Aaah, não!
EU: Por que?
IRMÃ: Porque tem baratas morando lá.
EU: E daí?
IRMÃ: Eu não consigo...
EU: Hã?!
IRMÃ: Não consigo fazer com alguém me olhando.
EU: O QUÊ?!
Pausa para risada.
EU: Tá bom, tá bom. Eu vou te dar dez minutos.
IRMÃ: Só? Ih, não vai dar não.
EU: Ai meu Deus. Por que?
IRMÃ: Não consigo fazer sob pressão.

quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

Dancing with myself

 
 
On the floor of Tokyo / Nas pistas de Tokyo
Or down in London town to go / Ou então nas ruas da cidade de Londres
With the record selection / Com uma seleção de gravações
With the mirror reflection / Com o reflexo do espelho
I'm dancing with myself / Estou dançando comigo mesmo

When there's no-one else in sight / Quando não tem mais ninguém à vista
In the crowded lonely night / Na solitária noite cheia de pessoas
Well I waited so long / Bem, eu esperei tanto tempo
For my love vibration / Por minha vibração de amor
And I'm dancing with myself / E estou dançando comigo mesmo

I'm dancing with myself / Dançando comigo mesmo
I'm dancing with myself / Dançando comigo mesmo
Well there's nothing to lose / Bem, não há nada a perder
And there's nothing to prove / E não há nada para provar
And I'll be dancing with myself / Eu estarei dançando comigo mesmo

If I looked all over the world / Se eu procurasse por todo o mundo
And there's every type of girl / E existe todo tipo de garota
But your empty eyes / Porém seus olhos vazios
Seem to pass me by / Parecem me ignorar
Leaving me dancing with myself / E me deixam dançando comigo mesmo

So let's sink another drink / Então vamos tomar outra bebida
'Cause it'll give me time to think / Pois isso me dará tempo para pensar
If I had the chance / Se eu tivesse uma chance
I'd ask the world to dance / Eu convidaria o mundo para dançar
And I'll be dancing with myself / E estaria dançando comigo mesmo
 
Oh dancing with myself / Oh dançando comigo mesmo
  Oh dancing with myself / Oh dançando comigo mesmo
Well there's nothing to lose / Bem, não há nada a perder
And there's nothing to prove / E não há nada para provar
And I'll be dancing with myself / Eu estarei dançando comigo mesmo

So let's sink another drink / Então vamos tomar outra bebida
'Cause it'll give me time to think / Pois isso me dará tempo para pensar
If I had the chance / Se eu tivesse uma chance
I'd ask the world to dance / Eu convidaria o mundo para dançar
And I'll be dancing with myself / E estaria dançando comigo mesmo

So let's sink another drink / Então vamos tomar outra bebida
'Cause it'll give me time to think / Pois isso me dará tempo para pensar

Dancing with myself / Dançando comigo mesmo
  Oh dancing with myself / Oh dançando comigo mesmo
Well there's nothing to lose / Bem, não há nada a perder
And there's nothing to prove / E não há nada para provar
And I'll be dancing with myself / Eu estarei dançando comigo mesmo

Dancing with myself / Dançando comigo mesmo
  Dancing with myself / Dançando comigo mesmo
Well there's nothing to lose / Bem, não há nada a perder
And there's nothing to prove / E não há nada para provar
And I'll be dancing with myself / Eu estarei dançando comigo mesmo

terça-feira, 11 de janeiro de 2011

O Homem de Quatro Pés

Você já ouviu falar de um livro chamado "Comer, Rezar, Amar", de Elizabeth Gilbert? Trata-se da história da autora, em uma viagem em busca do auto-conhecimento. Depois de se divorciar do marido e, logo em seguida, viver um conturbado romance com um rapaz bem mais novo do que ela, Liz Gilbert, uma escritora e jornalista resolve fazer uma viagem em visita à Itália onde, por meio da culinária, ela descobre o significado e a importância do Prazer; à Índia onde, por meio da cultura, tradições e ritos, ela recupera sua verdadeira fé; e à Indonésia, onde ela encontra o Amor e, consequentemente, encontra também à si mesma.

Onde eu quero chegar com isso? E o que isso tem haver com esse blog? É simples.
Nessa viagem, Liz conhece uma figura muito cativante: Ketut, o xamã. E ele ensina uma importante lição à Liz:
"Então, quando o velhote me perguntou pessoalmente o que eu queria de verdade, encontrei outras palavras, mais verdadeiras.

- Eu quero ter uma experiência duradoura de Deus. Algumas vezes, eu sinto que entendo a divindade de Deus, mas depois deixo de entender porque me distraio com meus desejos e medos mesquinhos. Quero estar com Deus o tempo todo.Mas não quero ser nenhuma monja, nem abrir mão por completo dos prazeres mundanos. Acho que o que eu quero é aprender a viver neste mundo e desfrutar seus prazeres, mas também me dedicar a Deus.

Ketut disse que podia responder minha pergunta com uma imagem.

Mostrou-me um esboço que havia desenhado certa vez durante a meditação. Era uma figura humana andrógina, de pé, com as mãos unidas em prece. Mas essa figura tinha quatro pernas e não tinha cabeça. Onde deveria estar a cabeça, havia apenas um tufo selvagem de samambaias e flores. Em cima do coração estava desenhado um pequeno rosto sorridente.


- Para encontrar o equilíbrio que você busca - disse Ketutu, por intermédio do tradutor - é nisso que você tem de se transformar. Precisa manter os pés planatados com tanta firmeza na terra que é como se tivesse quatro pernas, em vez de duas. Assim, você consegue permanecer no mundo. Mas você tem que parar de ver o mundo através da sua cabeça. Em vez disso, precisa olhar pelo coração. Assim você vai conhecer Deus." 

Quando li essa trecho, percebi que faz todo o sentido. Percebi que, assim como Liz, eu também sinto um grande desejo de aprender a viver neste mundo. Ao conselho do xamã e até mesmo pela propósta do livro, decidi partir na mesma viagem que a Liz fez - não a da Itália ou Índia, mas a do auto-conhecimento.

E por que ser egoísta ao ponto de guardar isso só para mim? Por que não fazer como a Liz e dividir essa experiência tão maravilhosa e gratificante com o mundo? E daí surgiu a idéia de criar o blog, e relatar aqui os aprendizados que essa viagem vai me trazer, as vitórias e as derrotas, sim, mas principalmente o crecimento dentro desses dois campos.

E aí, resolvi conhecer a trilha, com um passo dos meus quatro pés de cada vez. Eu nunca tinha experimentado andar com quatro pernas antes e, por isso, confesso que estou encontrando certa dificuldade, mas eu me lembro de que também foi assim quando experimentei andar primeiramente com duas. E se eu consegui, por que não o faria também agora?

Até breve, e lembrem-se: um pé de cada vez, mas todos os quatro firmes no chão.

domingo, 17 de outubro de 2010

Não brinque com meus olhos


Por favor, não brinque com meus olhos
Eles te seguem por onde for
Acompanhando o contorno dos lábios
Desejando o teu Amor

Por favor, não brinque com minhas mãos
Elas tremulam quando você me toca
Um suspiro, uma ilusão
E eu não vejo o fim da rota

Por favor, não brinque com meus lábios
Eles sonham em alcançar os teus
Quase tanto quanto eu sonho
Em me perder num beijo seu

Por favor, não brinque com meu coração
Ele palpita como um pássaro
Desejando vencer o espaço
Que impede nossa paixão

T. Augusto